Sempre que se procura organizar actividade para miúdos, quando
se procura uma prenda, quando se fala de uma profissão e até de uma actividade
de lazer, ele está lá, o sexismo: o bombeiro, a enfermeira, a empregada
doméstica, o patrão… são as brincadeiras, de carros para os meninos que não
vestem rosa e de cozinhas para as meninas que são princesas.
O sexismo não tem nada a ver com sexualidade. O sexismo tem a
ver com restrição da liberdade e com preconceito, com o perpetuar de um mundo em
que o homem e a mulher devem viver em mundos separados, com as suas próprias regras
e normas de conduta, e em que o destino de um e de outro foi marcado à nascença
(enfim, na concepção) pelo seu género sexual.
A coeducação, a ideia que meninos e meninas deviam frequentar
a mesma sala de aula chegou a Portugal por volta de 1900, mas foi eliminada por
volta de 1930 pelo Estado Novo, a bem da moral e dos ideais de uma sociedade
repressora. Só após o 25 de Abril de 1974 essa prática voltaria às nossas
escolas (ainda que se mantenha a separação dos sexos nalgumas escolas privadas
e religiosas). Infelizmente, embora a escola se tenha democratizado, quer no
que respeita ao acesso, quer no que respeita aos direitos e liberdades que
passou a acolher, as mentalidades de muitos pais e mães ainda estão por
revolucionar, e permanecem num tempo em que o homem e a mulher têm estatutos diferentes,
a que corresponde um mundo seccionado, azul para os homens que não choram e
rosa para as mulheres que não assobiam.
É um mundo triste este monocolor, e em que ambos os sexos
ficam a perder. Constroem-se paredes que são preconceitos nas cabeças das
crianças, e depois suspiramos por um mundo de igualdade. Deixar os meninos usarem
rosa e as meninas brincar com carrinhos não é querê-los iguais, é deixar uns e
outros serem eles próprios, deixá-los descobrir o mundo sem preconceitos nem sentidos
proibidos. São, antes de mais crianças, diferentes entre si porque são pessoas
diferentes, mais do que por serem de um ou do outro sexo. Mas poderão ser mais
diferentes, mais indivíduos, melhores pessoas, se não lhes pintarmos a cabeça
por dentro e as deixarmos descobrir todas as cores do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário