quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sexismo na infância

Sempre que se procura organizar actividade para miúdos, quando se procura uma prenda, quando se fala de uma profissão e até de uma actividade de lazer, ele está lá, o sexismo: o bombeiro, a enfermeira, a empregada doméstica, o patrão… são as brincadeiras, de carros para os meninos que não vestem rosa e de cozinhas para as meninas que são princesas.
O sexismo não tem nada a ver com sexualidade. O sexismo tem a ver com restrição da liberdade e com preconceito, com o perpetuar de um mundo em que o homem e a mulher devem viver em mundos separados, com as suas próprias regras e normas de conduta, e em que o destino de um e de outro foi marcado à nascença (enfim, na concepção) pelo seu género sexual.
A coeducação, a ideia que meninos e meninas deviam frequentar a mesma sala de aula chegou a Portugal por volta de 1900, mas foi eliminada por volta de 1930 pelo Estado Novo, a bem da moral e dos ideais de uma sociedade repressora. Só após o 25 de Abril de 1974 essa prática voltaria às nossas escolas (ainda que se mantenha a separação dos sexos nalgumas escolas privadas e religiosas). Infelizmente, embora a escola se tenha democratizado, quer no que respeita ao acesso, quer no que respeita aos direitos e liberdades que passou a acolher, as mentalidades de muitos pais e mães ainda estão por revolucionar, e permanecem num tempo em que o homem e a mulher têm estatutos diferentes, a que corresponde um mundo seccionado, azul para os homens que não choram e rosa para as mulheres que não assobiam.

É um mundo triste este monocolor, e em que ambos os sexos ficam a perder. Constroem-se paredes que são preconceitos nas cabeças das crianças, e depois suspiramos por um mundo de igualdade. Deixar os meninos usarem rosa e as meninas brincar com carrinhos não é querê-los iguais, é deixar uns e outros serem eles próprios, deixá-los descobrir o mundo sem preconceitos nem sentidos proibidos. São, antes de mais crianças, diferentes entre si porque são pessoas diferentes, mais do que por serem de um ou do outro sexo. Mas poderão ser mais diferentes, mais indivíduos, melhores pessoas, se não lhes pintarmos a cabeça por dentro e as deixarmos descobrir todas as cores do mundo.

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