A política deste governo para a educação é bem conhecida e
pode ser descrita em meia dúzia de palavras: desorçamentação, agregação de
escolas e agigantamento de turmas, retirada generalizada dos apoios a escolas,
professores, famílias e alunos. A isto acresce o discurso da exigência para os
alunos: exames a torto e a direito, em nome do rigor.
O resultado é também conhecido: ir à escola implica um
esforço acrescido para todos, são as deslocações, a fome, o anonimato dos
alunos, o desemprego e a falta de condições para professores desenvolverem o
seu trabalho. Nivelam-se as expectativas por baixo (muito baixo) e dificulta-se
a progressão. Restringe-se a democracia da escola conquistada no 25 de Abril,
obtém-se mão-de-obra barata para uma economia moribunda, assente em trabalho
precário, voluntário e gratuito.
É neste quadro que surgem os empreendedores, os salvadores
da coisa pública, disposta a oferecer o chouriço a quem roubou o porco. Criam a
miséria para depois a mitigarem com as migalhas que lhes caem da mesa. Foi e é
o caso do Banco Alimentar Contra a fome, iniciativa que transformou a pobreza
do povo num negócio chorudo para as cadeias de super e hipermercados, que
lucram enquanto praticam a caridade aos necessitados, muitos deles explorados e
roubados pelo mesmo patrão a quem agora agradecem o kilo de arroz ou o pacote
de leite que o Banco Alimentar lhes entrega, pago a bom preço por gente que,
querendo fazer o bem, engorda os agiotas da fome.
Agora o mesmo esquema, ou semelhante, nada de muito
original, e com o patrocínio dos mesmos oligarcas da lusitana nação à beira mar
plantada, chega à educação. O ataque à escola pública já não passa apenas pela
entrega das verbas destinadas ao ensino aos privados e a essa cadeia de
hipermercados bafientos de escolas que são as misericórdias, em que os
professores e auxiliares são tratados da mesma forma que os caixas dos hiper’s
e os alunos como se mercadoria fossem, sendo a sua “educação” uma qualquer
promoção com direito a desconto em talão ou cartão, desde que pague em dinheiro
vivo que multibanco só acima de determinado valor, que não estão para pagar
taxas, e impostos só na holanda.
A escola pública, retratada como mãe de todos os malefícios da
sociedade, onde os professores são barões e os alunos uns ingratos lorpas
malcheirosos está na imprensa do regime. Os rankings assim os confirmam.
Verdade, verdadinha cientificamente e cratinamente demonstrada.
É aqui que os salvadores da pátria e da mátria acorrem e
entre municipalizações e trabalho voluntário, com direito a gordas e estampas
nos jornais do costume, lá se vão cantando loas aos patrões benevolentes que
acorrem com trabalho voluntário – dos outros – em missão suprema e patriótica,
projectos financiado pelos do costume – dos contribuintes não holandizados – e arrombado
pelos governantes que acenam com exigência e rigor nos orçamentos e excomungam
a educação do mal das ciências e as ciências da educação da propriamente dita, vêm
a salvar a escola pública com a magnânima privatização.
Vem este desabafo a propósito das santificas noticias dos últimos
dias, no público, i e outros afins, sobre a descoberta da pedra filosofal da
pedagogia feita pela EPIS (http://www.epis.pt/homepage),
como seu projecto “mediadores para o sucesso escolar” (http://www.epis.pt/mediadores/resumo-dos-programas)
coisa destes insuspeitos senhores* , a bem da nação e desgraça de todos nós.
*) Mesa da Assembleia
Geral:
SOVENA,
Manuel Alfredo de Mello; José Miguel Júdice; Nuno Brito Lopes; Nuno Luís
Sapateiro; Luís Palha,
Direção:
Luís Palha;Fundação EDP, Sérgio Figueiredo; Fundação
Manuel António da Mota, Rui Pedroto; Jerónimo Martins, Henrique Soares dos
Santos; Unicer, João Abecasis
Conselho Fiscal:
Eduardo
Catroga; WESHARE, Luís Magalhães; BDO, José Soares Barroso; Ernst & Young,
João Alves; Price, Waterhouse & Coopers, Jorge Costa
Conselho Consultivo
Fundação Rocha dos Santos, Francisco van Zeller
Banco Espírito
Santo, José Manuel Espírito Santo
Deutsche Bank,
Bernardo Meyrelles
Fundação EDP, Sérgio
Figueiredo
Grupo Visabeira,
Fernando Campos Nunes
Iberdrola, Joaquim
Pina Moura
Merck Sharp &
Dohme, Leonardo Santarelli
Porto Editora, Vasco
Teixeira
Sapec, Antoine Velge
SGC, Rui Pena
Instituto de Emprego e Formação Profissional, Félix
Esménio
Associação Novo
Futuro, Isabel Megre
Manuel Braga da Cruz
e
o alto patrocínio de S. Exca o Presidente da República.
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