"Eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da
minha altura"
F.Pessoa
Este texto responde a um desafio (nada melhor para me sacudir a preguiça) a
que não pude dizer não. Nada tenho contra o Henrique Monteiro, que não conheço,
e se quiserem interpretar isto como uma resposta, que o façam, porque eu tenho
direito de responder quando me esfregam idiotices na cara enquanto fazem ares
de doutorais. O meu principal pecado é este mesmo, responder a insultos que não
poderiam ser outra coisa, porque ao ser rasteiro não se revela o horizonte.
Que me perdoe o Henrique Monteiro pela minha cobardia ao atacar os fracos,
que me perdoem os restantes pela minha sinceridade.
O drama do Henrique Monteiro ao publicar este texto (http://expresso.sapo.pt/deixarei-a-minha-filha-estudar-humanidades=f859419) no Expresso parece
ser ser a contradição entre as potenciais contradições entre a vocação da sua
filha e as perspectivas de futuro dos licenciados em letras, aproveitando para
malhar numa geração de piegas preguiçosos que (como ele) foram para letras para
fugir à matemática. Tudo embrulhado numa pseudo-análise geo-política que
contrasta as prioridades do Obama como as exigências feitas aos petizes
indianos. Desta salada meta-analítica conclui o Henrique Monteiro que será
firme e exigente com o seu rebento e que não fará condescendências aos vícios da
juvenil Monteirinha.
É um valente, este Monteiro pai e o fato assentar-lhe ia bem se o plebeu em
causa não fosse nu!
O valente e firme Monteiro pai é o mesmo que há uns dias nos esclareceu o
que agora omite: ele não tem mais filhos por que gastou tudo com a primeiro/a (http://expresso.sapo.pt/nao-temos-mais-filhos-porque-gastamos-tudo-no-primeiro=f858356#ixzz2vBHBq2KD) e que a culpa da baixa natalidade é do
despesismo familiar com o primeiro filho: “ele é actividades extracurriculares, ele é festas temáticas, ele é
festas com palhaços, ele é playstation, ipad, computador portátil e telemóvel,
ele é viagens de finalistas para quem acaba quarta classe, ciclo e secundário,
ele é gastar dinheiro nos três milhões de festivais de verão, ele é o carro aos
18, com turbo, papá, por favor, com turbo e bufadeira”
O drama do Monteiro pai ao antecipar a tensão entre as vocações da sua filha e as
perspectivas de futuro dos licenciados em letras, é um drama de cordel, vivido
num condomínio de luxo duma qualquer urbanização moderna, com porteiro e
jardim, onde o Monteiro pai vive com os seus dois umbigos. O umbigo dele e o
umbigo que ele comprou para a sua filha. Quem diz umbigos diz consciências,
porque quem não as tem compra-as, que na internet dos IPad’s tudo se vende, tudo
se compra.
Se o Monteiro pai tivesse consciência própria e menos necessidade de encher
o Expresso com postas de pescada ultracongeladas nº5 do Chile em embalagens
douradas de marca fina, poderia ter noção do que é o resto do país em que
cresceu, e perceber que há quem não tenha filhos porque o dinheiro falta para
por pão na mesa, poderia perceber que o drama da maioria dos portugueses não
está na escolha do curso superior dos seus filhos mas sim na forma de os
conseguir manter na escola quando os salários diminuem, o passe aumenta, os
apoios sociais desaparecem, as escolas fecham e os professores deixam de ter
autonomia e força anímica para combater um sistema que os obriga a transformar
o que resta da escola em fabricas de marranço.
O Henrique Monteiro foi para letras porque terá tido medo da matemática.
Por preguiça, segundo a sua interpretação, e isso condenou-o a uma vida difícil
(!!!). A vida difícil do Henrique Monteiro continua a ser receber um ordenado por
escrever baboseiras que um qualquer editor tão idiota e preguiçoso como ele insiste em
publicar num jornal de referência. Pobre Monteiro na terra, que o céu aos
pobres de espírito pertence.
Cada um educa de acordo com o que conhece, cada um sonha de acordo com o que vive. Que os Henriques Monteiros deste mundo me recordem constantemente que educar não é ser nos meus filhos o que não fui na minha vida, mas ser com os meus filhos o que sonhei ser hoje.
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