quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A escola é, como a democracia, o pior dos sistemas, com exceção de todos os outros.

E as duas estão intimamente ligadas, no sentido em que a escola é por excelência o espaço coletivo de transferência e construção dos conhecimentos, valores e práticas de uma sociedade, muito no sentido que lhe é atribuído por Bourdieu, dentro do paradigma da reprodução social.

Será assim, pela educação, e em operacionalizada na escolarização que a dimensão cultural, mas também estrutural que uma sociedade se reproduz nos seus valores, práticas e conhecimentos.

Não será por coincidência que o aumento dos deficits democráticos acompanhem senão causem, deficits de escolarização e de escolaridade. É nas democracias mais avançadas que se verificam não apenas os maiores índices de escolarização mas também as formas mais plurais e participação na escolaridade.

Onde a democracia se funde com participação, encontramos os sistemas onde escolaridade se funde com pluralidade, não só na dimensão escolar mas também no papel da família, assim como o da cultura, nas suas variadas formas.



Alavanca de Arquimedes
   

Da mesma forma que não é legítimo atribuir à democracia, mas sim às suas limitações, o crescimento de forças antidemocráticas, não se pode atribuir à escola o crescimento do analfabetismo, funcional ou efetivo. Esse analfabetismo, a existir, decorre das limitações da escola enquanto laboratório social de uma democracia limitada.


Enquanto entendermos a democracia como um sistema de delegação de poder meramente representativo e a escola como um local e um tempo de fabricação de “bons cidadãozinhos” ambas ficam a perder, e nós com elas. Mas não poderemos depois culpar a democracia nem a escola por as termos confinado a um funcionalismo residual, nem adianta, azedado o leite, apresentar-nos como clientes insatisfeitos, exigindo o livro das reclamações.

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