Existem
diferenças importantes entre comunidade
escolar, comunidade educativa e comunidade de aprendizagem, que
assentam ou advêm das diferenças entre escola
e sistema escolar, educação e sistema educativo e aprendizagem
e sistema de aprendizagem
A educação não se limita à educação escolar, embora sejam frequentemente tratadas com sinónimos, tal como sistema educativo e sistema escolar não são a mesma coisa. O sistema escolar é um, entre vários, dos sistemas de educação em que se incluem os sistemas de aprendizagem, tais como a família, o trabalho, o desporto, etc, em que se entende educação como um conjunto de actividades e recursos organizados com uma determinada finalidade, sendo que essa finalidade tanto se pode centrar no objectivo final (sucesso/insucesso), como se passa no sistema escolar, como nos processos, tal como acontece nos processos de aprendizagem.
Educação não é
necessariamente equivalente a aprendizagem. Nem tudo o que nós aprendemos é
resultado da educação. Educação implica ensino, no sentido em que alguém assume
essa função, seja presencialmente seja à distancia, aconteça de forma síncrona ou
assíncrona. A educação enquanto ensino, o ato educativo, implica a presença de pelo
menos duas pessoas com papeis e estatutos distintos: um ensinante e um aprendente,
sendo que a avaliação recai sobre o segundo para determinar o grau de sucesso
da relação educativa e sobre o primeiro para determinar o grau de cumprimento
dos requisitos ao desempenho da função.
É necessário
ter presente que por um lado muito do que é ensinado na escola não é aprendido.
Sendo a actividade educativa tradicionalmente estabelecida entre um emissor (o
ensinante) e vários receptores (aprendizes), é fácil compreender que a recepção
seja realizada de forma distinta entre os aprendizes e que a transformação,
individual, da informação e conhecimento
e capacidade de produção sobre esse conhecimento seja distinta, ainda que as
formas de avaliação tenham como referencial a informação dispensada pelo
emissor.
Por outro
lado, muitas das aprendizagens que ocorrem ao longo da nossa vida, desde o
nascimento à morte, ocorrem fora do contexto formal da escola. Não são
resultado de uma actividade educativa, no sentido em que exista um emissor com
funções deliberadamente educativas. Aprendemo-lo informalmente, na relação com
os outros e com o mundo, sem que estejam definidos papeis educativos distintos
e exclusivos, mas sim intermutáveis, entre emissor e receptor, entre detentor
do saber e aprendiz. Na maioria das nossas situações quotidianas, dentro e fora
da escola, a relação entre pares dá origem a aprendizagens, algumas delas
valorizadas escolarmente, outras nem tanto…
Por fim as
aprendizagens decorrem muitas vezes no âmbito do currículo oculto, um conjunto
de regras implícitas, existentes na escola mas também fora dela que remetem
para normas de funcionamento implícitas, mais ou menos aceites pelos actores,
mas que determinam de forma relevante a relação entre os aprendentes, os conteúdos
e os agentes educativos. Trata-se de comportamentos, competências e
conhecimentos que ultrapassando os limites dos conteúdos escolares que ao ser,
ou não, mobilizados para o processo de aprendizagem influem ou determinam o
grau de sucesso. Esta capacidade de mobilização tende a ser vista como marginal
e indesejada no contexto escolar, por infringir as regras do formal, mas como
positiva e desejável nos contextos não formais, em que as comunidades de
aprendizagem se movem.
Assim
A comunidade escolar compreende aqueles
que estão envolvidos na vida escolar: estudantes, pais e encarregados de
educação, professorem, membros da direcção escolar
A comunidade educativa é um conceito mais
lato, incluindo todos aqueles que se relacionam com a educação num sentido mais
amplo, não se restringindo ao sistema escolar e que podem incluir a família
mais alargada, a comunidade local e as instituições, externas à escola, que
nela intervêm
A comunidade
de aprendizagem refere-se a
uma comunidade de aprendentes, pessoas de todas as idades envolvidas em
diferentes tipos de processos e actividades de aprendizagem, dentro e fora do
sistema escolar.
Uma comunidade de aprendizagem pode ainda referir-se a uma turma
ou uma escola, mas em que a aprendizagem é colocada no centro da sua actividade,
em detrimento do ensino sucesso escolar ou académico, na medida em este que é
avaliado pelos testes. Alunos e professores aprendem uns com os outros,
anulando as diferenças no que se refere à detenção do saber e ao estatuto. Passando
o professor a ter um papel de educador ou animador das relações dentro da
comunidade e desta com as actividades de aprendizagem.
Uma
comunidade de aprendizagem pode referir-se a uma comunidade local, ou
território, mobilizado e envolvido na criação, coordenação e promoção de
aprendizagens, envolvendo toda a população: crianças, jovens e adultos. Nesse
sentido a comunidade organiza-se de forma a identificar, mobilizar e coordenar
os vários espaços e recursos disponíveis na comunidade, sejam quais forem:
escolas, universidades, bibliotecas, parques infantis, praças, mercados,
ateliers, centros de saúde, museus, complexos desportivos, cinemas, rádios locais,
casas comunitárias, etc.
O caracter
mobilizador da comunidade escolar em torno de objectivos comuns, centrados nos
processos de aprendizagem deslocam o foco da actividade do resultado para o
processo, desvalorizando e por vezes rejeitando a avaliação formal e estandardizada
e compreendendo que se trata de processos qualitativos e não quantitativos os
que permitem avaliar o sucesso. De igual forma o sucesso do colectivo e dos indivíduos
são interdependentes, numa estrutura em que a cooperação toma o lugar da
competição que ocorre nos contextos formais escolares. A comunidade depende das
contribuições individuais para atingir os seus objectivos, e o sucesso de cada
um constitui-se determinante para o sucesso de todos.
A comunidade
de aprendizagem constitui-se assim numa rede de interações entre pessoas, individualmente
ou organizadas em estruturas colectivas, em torno de actividades que visam a
aprendizagem individual e recíproca em contexto cooperativo, no respeito pelos
percursos individuais, enquadrados colectivamente, mobilizando recursos materiais
ou incorpóreos a partir dos problemas, desafios e vontades manifestas na
comunidade visando o seu desenvolvimento.
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