quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A falácia dos rankings na construção sociedade que sonhamos



Os rankings escolares, como os conhecemos em Portugal, medem o desempenho dos alunos nos exames nacionais de Português e Matemática.
Os exames têm em média a duração de duas horas, e a média dos alunos de cada escola nesse exame determina a sua classificação no ranking.
A teoria é que a escola com classificação mais alta será a melhores. E que os alunos dessa escola são os melhores e que o aluno melhor classificado na escola com melhor classificação seria o melhor aluno de Portugal.
A falácia, no entanto, é que o aluno com melhor classificação no exame pode nem sequer ser o melhor aluno da escola, e que a escola com melhor média nos exames pode não ser a escola em que os alunos têm melhores notas.
E pode até ser que ter melhores notas não seja o melhor nada.
A escola não existe, não deveria existir para ter as melhores notas. A escola não deveria servir para comparar notas de alunos e nem para serem comparadas pelas notas dos seus alunos.

Sobretudo quando essa comparação se baseia em duas horas da sua actividade anual.
Sobretudo quando essa comparação é uma falácia. É-o pelo atrás descrito e porque tudo assenta numa premissa duplamente falsa, a da igualdade: a suposta validade dos rankings assenta no principio da igualdade dos testados face ao teste, sendo o teste único, todos estão em igual condições de o realizar, pelo que o seu desempenho é determinado pelo grau de domínio das matérias em teste. A duplicidade da falsidade da premissa consiste na efectiva não igualdade dos alunos face ao teste porque são pessoas diferentes, com capacidades e históricos pessoais diferentes e a menos que a escola tenha como objectivo normalizar as pessoas enquanto alunos, a escola não anula as diferenças pessoais. A primeira falsidade é demonstrada quando se constata que pessoas diferentes não encaram uma situação de teste de forma igual. A segunda falsidade decorre daquilo que os exames medem. O exames não medem a qualidade das escolas nem a qualidade dos alunos, eles medem o grau de acerto dos alunos às questões colocadas, no momento e local certo ( dia, hora e local do exame), grau de acerto esse validado por uma grelha de critérios definida pelo Ministério da Educação. E “acertar” nas respostas previstas na grelha não é o mesmo que saber. Para acertar é necessário saber ou ter muita sorte, mas pode-se saber e nem sequer responder à questão. Pode-se responder à questão mas não no local, dia ou hora pretendidos pelo Ministério ou acertando no local e hora, errar na forma.
E aqueles que acertam são, regra geral os que foram treinados para tal. E as escolas dos alunos que mais acertam são tendencialmente as que treinam (e por vezes seleccionam) os alunos para acertarem nas questões de exame.

E as escolas que investem mais no treino para os rankings não são as melhores escolas. Não o são porque excluem. E uma escola que exclui não pode ser uma boa escola, porque uma escola que exclui alunos, exclui cidadãos e ensina e premeia a exclusão, cria descriminação, encerra os eleitos em guetos de egoísmo, competição e inorância, porque a vida e a construção de uma sociedade melhor não é feita pelos “melhores” alunos, é feita por todos, porque não somos ilhas e não nos pode bastar ter o “melhor em qualquer coisa”, é necessário que a escola contribua para que sejamos todos um bocadinho melhores, mesmo que esse bocadinho seja muito pouco, um quase nada, mas que ninguém fique para trás e que esse quase nada seja um quase tudo para todos e não um “mais que tudo“ para apenas alguns.

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