sexta-feira, 21 de março de 2014

Opções fundamentais nas "Escolas Democráticas"

Uma escola democrática, mais precisamente uma escola de educação democrática, é uma escola que se baseia na dentro de uma linha chamada de Pedagogia Libertária ou Gestão Democrática e obviamente em princípios democráticos, em especial na democracia participativa, e que dentro dessas regras dá direitos iguais de participação iguais para estudantes, professores e funcionários.
Esses ambientes ou espaços de ensino colocam os jovens estudantes e as suas vozes como os actores centrais do processo educacional, em cada aspecto das operações da escola, incluindo aprendizagem, ensino e liderança. Os adultos, professores são pedagogos e facilitadores que participam do processo educacional auxiliando nas actividades de acordo com os interesses dos estudantes que as escolheram.
Assim, todos estão democraticamente comprometidos numa construção colectiva do espaço comum e na responsabilidade das relações com o outro. É uma perspectiva que fala da educação como uma função colectiva.
Numa escola democrática dá-se aos estudantes a possibilidade de gerir o seu tempo. Em muitas escolas, não existe a obrigatoriedade de frequentar sequer as aulas. Os estudantes, após compreenderem todo o sistema e se conhecerem melhor, são livres para decidir o que acham que devem fazer. Dessa forma aprendem a ter iniciativa. Eles também ganham a vantagem do aumento na velocidade e no aproveitamento do aprendizado, como acontece quando alguém está praticando uma actividade que é do seu interesse. Os estudantes dessas escolas são responsáveis por si e têm o poder de dirigir seus estudos desde muito novos.
A aprendizagem na Educação Democrática baseia-se no estímulo e no exercício do desejo de conhecer e ensinar. (fonte wikipedia)

Actualmente acredita-se que existam cerca de 500 escolas democráticas no mundo inteiro. A escola democrática mais antiga ainda em funcionamento, e provavelmente a mais emblemática é a Summerhil, em Inglaterra, fundada em 1921. Funciona em regime de internato e é famosa pela quase ausência de regras. Crianças e adultos participam em igualdade na discussão dos assuntos correntes da escola e na definição de actividades educativas. Existem aulas e horários mas a sua função é permitir ao aluno escolher as suas actividades de forma esclarecida, a participação nas aulas e não é uma obrigatoriedade.
Em Portugal a única escola actual referenciada como Escola Democrática é a Escola da Ponte, em que sobretudo a nível curricular e da liberdade de circulação dos alunos se identifica com este tipo de escolas.
Os traços fundamentais das escolas democráticas assentam no princípio da participação activa dos alunos nos processos de aprendizagem e centram nos seus interesses e motivações o ponto de partida para as aprendizagens. Também as assembleias e conselhos são elementos característicos, assegurando a participação dos alunos estão presentes nestas escolas, muito embora o âmbito destes órgãos de debate e decisão varie bastante de escola para escola, assim como o alcance da sua “soberania”, que se pode limitar ao estabelecimento de algumas regras da sala de aula ou estender-se até aspectos gerais da gestão corrente da escola.
A dimensão democrática, que se traduz sobretudo numa democracia participativa e directa como aspecto quotidiano das crianças constitui nestas escolas mais do que um acto de liberdade e cidadania, um aspecto estruturante das opções pedagógicas. A participação não é um extra ou uma benesse, mas sim um direito e um dever, e importa para o contexto escolar uma visão do mundo em que a liberdade e a responsabilidade são aprendizagens tão válidas e necessárias como os conteúdos curriculares. O saber não é, regra geral, entendido como pertença do professor mas sim uma construção partilhada, um desafio para o grupo e o prazer da descoberta e da partilha a principal motivação para o trabalho e a aprendizagem.

Actualmente, aliás como ao longo da sua história, as escolas democráticas constituem um movimento em crescimento mas simultaneamente em contravapor, na medida em que a sociedades com ritmos cada vez mais acelerados de vida e critérios de sucesso assentes em critérios materiais são na sua generalidade cada vez menos complacentes com ambientes pedagógicos em que o processo é mais valorizado que o resultado e em que o ritmo do adulto não se imponha ao ritmo das crianças. As escolas democráticas continuam a constituir um desafio à sociedade, ao questionarem de forma efectiva e concreta não apenas as formas tradicionais de ensino mas os valores instituídos na sociedade e as práticas daí decorrentes. De igual forma a sua natureza democrática implica um elevado grau de autonomia e diferenciação, o que constitui um desafio às tentações centralizadoras e normativas das tutelas, mormente os Ministérios da Educação. Por fim é necessário referir que às alegrias das crianças que conseguem encontrar nestas escolas um espaço de autonomia, realização e alegria se contrapõem tantas vezes as angustias dos pais e educadores, que muitas vezes dominados pela angustia de um futuro incerto para os seus filhos e educandos, algo transversal à sociedade, procuram validar as suas escolha em formas quantificadas de comparação de resultados com as escolas tradicionais, algo que apenas artificialmente será possível, na medida em que os objectivos são diversos e os resultados naturalmente também o serão. 

2 comentários:

  1. A participação é a essência do processo. A questão que me vou colocando - e que amanhã teremos a oportunidade de debater - é se a vivência da liberdade na escola não provoca nos miúdos um choque frontal, violento, chocante e doloroso com o regime de ditadura consentida que marca a vida da generalidade das sociedades humanas para lá das escolas democráticas. Outra coisa interessante é pensar na eventual contradição entre a vivência da democracia na escola por oposição a eventual vivência oposta no seio da família.

    ResponderEliminar
  2. Sim, a participação é a tradução prática desta dimensão "democrática", mas se considerarmos essa participação enquanto acção (física, intelectual e emotiva). Trata-se de uma participação determinante e um facto de real envolvimento e decisão (embora essa decisão nem sempre tenha a mesma abrangência)
    Quanto ao "choque frontal" posso desde já, porque tive oportunidade de participar num debate semelhante com o Pascal, que não é assim tão grande quanto se possa pensar. Existe, provoca angustia nos miúdos e assume formas que eu não preveria, mas não constitui um bloqueio. Aqui a questão, vista de uma forma poética é: sonhar é como andar de bicicleta: podemos cair mas nunca se desaprende, e os germens das vivências numa escola democrática nunca morrem, porque a consciência de que cada um constrói o seu caminho permanece, assim como as ferramentas para o fazer.
    Quanto à família... enfim, as familias não são regra geral democráticas, nem sei de o deveriam ser. Os papeis são diferentes, e os miudos aprendem muito depressa a diferenciar contextos e a viver com referenciais diferentes. As empresas e a sociedade não são democráticas (pelo menos neste sentido que acordamos), e é isso que também se procura mudar, é aí que está a dimensão revolucionária destas escolas. Acredito firmemente que a família que os meus filhos constituirão um dia (?) será muito mais "democrática" do que aquela em que foram criados, tal como a que eu constitui o é em relação àquela em que fui criado...

    ResponderEliminar